Combinado com a evolução das negociações salariais, que em geral não repõem sequer o INPC, a carestia impõem um crescente arrocho dos salários.
Novo levantamento do Dieese revela que, em maio, cerca de 64% das negociações coletivas tiveram resultados inferiores à inflação pelo INPC. Reajustes acima desse índice foram observados em cerca de 19% dos casos; e iguais, em 17%. Pior resultado de uma data-base no período analisado.
No acumulado de 2021, 14,3% dos resultados apresentaram aumentos reais; 27,8%, apenas recomposição das perdas, e 58%, ϐicaram abaixo da inϐlação, sempre em comparação com o INPCIBGE. A variação real média no ano é de -0,67%.
Já os preços dos alimentos da cesta básica seguem em alta. O aumento em 12 meses acumula 14,39%, em 14 de 16 capitais pesquisadas pelo mesmo Dieese. Sem reposição, os salários não acompanham os preços e o trabalhador se vê em apuros, uma vez que se vê diante de uma redução do poder aquisitivo e já não pode comprar a mesma quantidade de mercadorias que comprava antes.
Porto Alegre lidera a carestia. A cesta básica, na Capital do RS, chegou a R$ 636,96. Em São Paulo, bateu em R$ 636,40. Ou seja, valores muito acima do Auxílio Emergencial médio de R$ 240,00 pago pelo governo federal.
Considerado o período entre maio de 2020 e o mesmo mês de 2021, o preço do conjunto de alimentos básicos subiu em todas as Capitais. Brasília liderou com 33,36%.
Salário mínimo
Quando se compara o custo da cesta com o salário mínimo líquido, após desconto previdenciário (7,5%), verifica-se que a pessoa remunerada pelo piso nacional comprometeu, na média, 54,84% do salário líquido pra comprar os alimentos básicos a um adulto. Em abril, 54,36%.
O óleo de soja aumentou em 15 Capitais. Carne bovina de primeira subiu em 16. Café em pó, 15. Pão francês subiu em 13. Entre abril e maio, o leite integral aumentou em 12 Capitais.
Variação mensal da cesta, 0,60%. Neste ano, 0,78%. Em 12 meses, 14,39%.
Crescimento do movimento grevista
O quadro de arrocho e pandemia tem despertado desconforto e reação da classe trabalhadora, como indica o significativo aumento do número de greves no primeiro quadrimestre deste ano.
Segundo o Sistema de Acompanhamento de Greves do DIEESE (SAG), foram realizadas, no primeiro quadrimestre de 2021, 231 greves. De janeiro a abril, houve crescimento mensal de 30% – de 47 a 67 paralisações. A maioria (75%) ocorreu no setor privado, sobretudo nos transportes (105), envolvendo majoritariamente rodoviários dos coletivos urbanos.
Entre as paralisações do funcionalismo público (17%), destacam-se as dos servidores/as das redes estaduais e municipais de educação (16 greves). Quase metade das mobilizações (48%) foi realizada contra o atraso no pagamento de salários (inclusive o 13º) e férias.
A implantação, o reajuste ou a regularização do vale-alimentação/refeição foi a segunda motivação mais frequente, presente na pauta de um quarto das mobilizações (25%). Em terceiro lugar (24%), estão as demandas por ações de proteção contra a disseminação do coronavírus, em especial mais rapidez na vacinação de trabalhadores mais expostos ao risco de contaminação.
Entre as principais motivações está ainda a luta contra as demissões, pela manutenção do emprego (11%). Na educação, crescem os conϐlitos entre educadores/as e governos, mas sem interrupção do trabalho. Os trabalhadores/as querem a permanência do regime remoto enquanto não houver vacinação e condições de segurança nas escolas.
Redução da jornada e salário em baixa
O estudo do Dieese também identificou uma redução nas negociações sobre redução de salários e jornada de trabalho.
A edição da MP 1.045 trouxe de volta a redução proporcional da jornada e de salários e a suspensão temporária do contrato de trabalho com pagamento do Beneϐício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda.
As disposições tinham sido instituídas pela primeira vez pela MP 936, em abril de 2020, para enfrentar a crise provocada pela covid-19, e prorrogadas por meio da lei 14.020, de julho de 2020. No ϐinal de abril de 2021, após a piora da pandemia, o governo editou a MP 1.045, para adotar as medidas novamente.
Mesmo com a maior quantidade de mortes por covid-19 nesse momento, o número de negociações sobre as disposições da MP caíram. Não é possível determinar a razão, mas há algumas hipóteses: menor temor da doença; preocupação dos empregadores em relação à redução das atividades econômicas e fechamento de empresas por causa dos impactos da pandemia. É possível também que haja acordos individuais, que não aparecem nos instrumetos coletivos.
O setor de serviços foi o que mais fez acordos sobre as MPs 936 e 1.045. Foram 2.656 negociações de abril de 2020 a maio de 2021, ou 47,4% das negociações sobre o tema no período. Isso se explica pelo fato de que, nesse setor, em muitos casos, o trabalho realizado exige contato pessoal entre prestador de serviços e cliente. A indústria registrou 1.904 negociações com cláusulas sobre o tema, cerca de 1/3 do total. No comércio, houve 961 negociações e no setor rural, só 62.
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Portal CTB