Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2019, 11h:29 -
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Para Vale, investir em segurança ‘custa mais que multa’, diz especialista
Foi até pouco. As duas imensas tragédias ambientais e humanas protagonizadas pelas quebras das barragens em Mariana e Brumadinho nos últimos anos não surpreendeu o presidente Associação Brasileira de Redução de Riscos de Desastres, Airton Bodstein.
Em entrevista à CartaCapital, ele diz que a surpresa é – infelizmente – não termos visto mais calamidades como estas.
“Acredito que continuará acontecendo”, disse ele. “São desastres evitáveis, tem um viés político e econômico por trás.”
O especialista diz que empresas como a Vale não têm interesse em investir em melhor segurança das barragens porque não existe a certeza de que desastres vão acontecer.
“O investimento seria maior que a multa”, conclui. Ele exemplifica: é gravíssima a construção de um refeitório e escritório de tarefas administrativas em uma área de risco, como foi o caso de Brumadinho. “Mostra total despreparo e preocupação da empresa com a vidas humanas”. Para Bodstein, as barragens brasileiras são de altíssimo risco.
“Não me surpreende nós já termos tido dois desastres em tão pouco tempo”, referindo-se ao desastre de Mariana (MG), em 2015.
Uma vez ocorrido o desastre, resta iniciar as operações emergenciais. Bodstein diz que, em eventos de grandes proporções como Brumadinho, não é incomum a ajuda demorar dois a três dias para chegar. “Claro que não é ideal ou correto, mas é o que acontece”, diz ele.
O especialista explica por que países como Israel – independentemente da proximidade do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com o presidente Jair Bolsonaro – se dispõem a auxiliar outras nações em situações emergenciais: “além do viés humanitário, é um momento de treinamento das próprias equipes de salvamento em outros cenários”.
Ele reitera, no entanto, que Forças Armadas são treinadas com outro viés, o de atuar em guerras. Bodstein não desmerece todos os equipamentos, helicópteros e a capacidade de realizar logísticas complexas que as Forças Armadas têm. “Mas eles não são especializados em salvamento”, completa.
O ideal, além de um melhor estudo e preparação para que tragédias como a de Brumadinho, segundo o especialista, é o desenvolvimento no Brasil de uma cultura de prevenção de riscos. “Ou seja, a ideia que um bombeiro, que médicos, que o SAMU, que as polícias, que toda a sociedade civil estejam preparados”, Bodstein explica. “É um trabalho de décadas.”
Carta Capital